sábado, 26 de setembro de 2009

Encontro com atores notáveis

Por Álvaro Chaer

Estava meio perdido, sem saber muito bem o que fazer com a minha carreira que ainda nem começou e fui encontrar alguns bons amigos para pedir conselhos. Fui recebido pelo Paulo Autran que logo me deu um abraço muito carinhoso. Ele perguntou se eu me importava com seu cigarro ou se aceitaria um. Eu disse que nao fumava, mas que nao me importaria com a fumaça. Aí ele me ofereceu uma bebida. Eu disse que nao bebia. O Grande Otelo disse que em algumas das suas melhores cenas ele estava bêbado. Aí a Dercy interrompeu perguntando se eu trepava. Fiquei sem jeito de responder. Mas aí o Paulo perguntou o que estava me preocupando. Eu disse que tinha medo da instabilidade da profissão. Ele disse que realmente é uma profissão muito instável, mas que se para ser feliz, basta eu ter um emprego estavél, que era pra eu trabalhar no Banco do Brasil. E me perguntou se era isso que eu queria.

Eu disse que não. E ele terminou dizendo que eu sabia o que fazer. Nesse momento o Oscarito veio correndo dizendo para eu não me levar tão a sério. Que as coisas podem ser levadas de um jeito mais leve, mais tranquilo e deu uma boa risada. A Bette Davis me aconselhou a tomar cuidado com as pessoas muito boazinhas. Muito simpáticas. Disse que essas eram as piores, e que eu ia encontrar com muitas delas ao longo da minha carreira. O Marlon Brando concordou dizendo que tinha verdadeiro nojo dos puxa-sacos. Falou que era estranha a forma como as pessoas começaram a tratá-lo depois da fama. Que até seu pai o tratava de maneira diferente. Disse que daria tudo para nao precisar viver isso, mas que sempre achou dinheiro algo fundamental e por isso trabalhava nesse ramo. E me aconselhou a tomar cuidado com isso.

E disse também para eu nao perder tempo com fofocas, porque os atores em geral são muito fofoqueiros. Nesse momento veio uma loura correndo desesperada. Aí vi de quem se tratava: Marilyn Monroe. Fiquei curioso para saber o motivo de tanto pânico. Judy Garland perguntou o que ela estava fazendo ali. Ela disse que queria estar consco, compartilhar daquele momento. Queria ser aceita pelo grupo. E que desejava ser reconhecida pelo seu talento e pela sua inteligência, que poucos conheciam. Acho que ela se sentia aprisionada naquele rótulo de mulher fatal. Na verdade acho que todos e galãs e mocinhas querem ser reconhecidos pelos seus talentos e nao por alguns atributos físicos. Monroe era tão linda, mas tão triste. O Raul Cortez se levantou e ofereceu o seu lugar para ela se sentar. Ele era o mais elegante do recinto e a acolheu muito bem. Enquanto ela se recompunha, ele começou a me dizer que era importante eu me manter sempre bem cuidado. Com as unhas cortadas.
Que os nossos companheiros de cena não devem nunca sofrer com nosso mal hálito ou chulé. Banho sempre, antes e depois do ensaio. Nesse momento eu me entusiasmei. Disse que nao via a hora de começar a ensaiar alguma peça. O Chaplin me perguntou o que eu estava esperando. Se era pela grande oportunidade. Disse que a grande oportunidade nunca vai acontecer. Que ninguem irá reconhecer meu talento, porque talento por si só não basta. E que eu teria que aprender a me produzir. Executar os meus sonhos. Colocar a mão na massa mesmo. Pediu para eu pensar que tipo de trabalho eu queria fazer, com qual finalidade, para quais platéias. Nessa hora eu me perguntei se eu nao era muito jovem para responder a essas questões. Ele disse que são perguntas básicas, mas que eu poderia demorar para respondê-las, mas que eu deveria buscar a excelência em todos os meus trabalhos.
A Cacilda concordou com ele. Completou dizendo que para se atingir essa excelência era preciso muita disciplina. Concentração. Eu teria que respeitar muito o meu público, então não poderia me atrasar nunca. Pontualidade é funtamental, de acordo com ela. E receber pelo meu trabalho também. Eu fiquei emocionado em falar com ela. Eu disse que meu sonho era morrer no palco. Aí ela disse que para isso era preciso que eu vivesse nele. Eu falei que estou disposto a isso: a viver de e para o palco. E ela finalizou dizendo: “Bem vindo ao clube”. Finalizamos nosso encontro com um brinde. Eu com meu copo d’água. Muito grato por aquele encontro. Fiz todos prometerem que estariam presentes nas minhas platéias. Levantamos nossos copos e dissemos um sonoro: MERDA!!

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